março 07, 2003

Inspetores dizem que Iraque acelera cooperação e querem continuar inspeções
07/03/2003 - 12h59


da Redação do UOL
em São Paulo

(atualizada às 14h17)

O inspetor-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Hans Blix, disse hoje em seu relatório que o governo iraquiano está acelerando o processo de colaboração para se desarmar, conforme resolução das Nações Unidas. Blix pediu mais tempo para continuar as inspeções.

O diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), Mohamed ElBaradei, que falou em seguida, disse que não há indício de que o Iraque tenha reativado seu programa de construção de armas nucleares. Ele também pediu prazo mais longo.

Blix disse que está pronto para apresentar à ONU, ainda em março, um programa para continuar as investigações. Ele gostaria de dobrar o número de inspetores à sua disposição para a tarefa, além de ter a chance de entrevistar cientistas iraquianos fora daquele país -até agora, as entrevistas têm ocorrido no próprio iraque. Segundo o inspetor, o país precisará de "meses" para se desarmar conforme a resolução 1.441.

Na avaliação de Paulo Henrique Amorim, o relatório foi mais favorável ao Iraque que aos EUA, apesar de, como no anterior, apresentar tanto argumentos pró como argumentos contra a guerra.

Cooperação

Blix disse estar desapontado pelo fato de que, no relatório apresentado em 7 de dezembro do ano passado, o Iraque não apresentou todas as informações que a ONU considerava necessárias.

Ele disse que alguns tipos de inspeção estão criando conflitos com o regime do presidente Saddam Hussein. Segundo ele, as investigações estão abrangendo todo o território do país. Mas ele reclamou que o governo de Saddam deveria ter fornecido mais informações sobre a destruição de armas.

Segundo Blix, com o uso de aviões russos, foi possível fazer algo antes não aceito pelo governo iraquiano: vôos de reconhecimento sobre o território iraquiano.

Blix disse estar satisfeito com a maneira como os cientistas iraquianos foram entrevistados pela ONU, sem testemunhas. Mas o sueco disse que preferia que essas entrevistas tivessem ocorrido fora do país.

Em relação a armas químicas e biológicas, Blix disse que pouca informação importante foi fornecida pelo Iraque. Até agora, disse ele, não há indicação de que tenha havido atividades proibidas, nem evidência de que Saddam tenha desobedecido a resolução 1.441 da ONU.

Blix lembrou, contudo, que pode haver atividade subterrânea ilegal. Várias inspeções foram feitas em alguns lugares que poderiam abrigar tais atividades, mas nada foi encontrado. O inspetor voltou a dizer que gostaria de ter mais condições para realizar seu trabalho.

O inspetor revelou que o governo iraquiano forneceu à ONU nomes de pessoas que estiveram envolvidas com a destruição de armas químicas e biológicas.

Blix citou relatórios dos serviços de espionagem britânicos que dão conta de que o Iraque segue produzindo e transportando armas químicas e biológicas em seu território. Ele disse que quer condições para investigar essas suspeitas.

Mísseis

Segundo Blix, o Iraque aceitou destruir os mísseis que ultrapassavam o alcance determinado para a ONU. Para ele, essa é uma medida importante. Nesta sexta, não foi anunciada nenhuma destruição de mísseis. Blix disse esperar que essa pausa seja temporária. Até hoje, o Iraque destruiu 34 de seus 120 mísseis Al Samud 2 irregulares.

De acordo com Blix, o trabalho dos inspetores está progredindo e demonstra que o Iraque está, efetivamente, se desarmando.

Armas atômicas

ElBaradei disse que as condições industriais objetivas para que o Iraque fabricasse armas atômicas se deterioraram consideravelmente nos últimos quatro anos.

Segundo ele, não há material apropriado nem pessoal qualificado no Iraque para desenvolver esse tipo de armamento. ElBaradei disse acreditar que o programa nuclear iraquiano não tenha sido retomado.

A Aiea teve acesso a 75 instalações no Iraque desde o ano passado, 21 delas jamais inspecionadas antes. ElBaradei disse não ter visto indício de atividade nuclear em nenhum dos prédios visitados pela ONU.

ElBaradei desmentiu também os boatos de que o Iraque tenha tentado importar ilegalmente urânio radiativo de Níger desde 1990.

O inspetor disse que as entrevistas com cientistas ligados ao governo iraquiano devem continuar, preferencialmente fora do país.

Alemanha

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, disse ao Conselho de Segurança da ONU que é possível desarmar o Iraque de modo pacífico e que existe uma alternativa real à guerra.

Fischer disse que a cooperação iraquiana com as inspeções de armas melhoraram muito recentemente, especialmente no atendimento às exigências da ONU para destruir os mísseis Al-Samoud 2.

"Bagdá poderia ter tomado as medidas recentes mais cedo, e com mais boa vontade. No entanto, nos últimos dias, a cooperação aumentou bastante. Esse é um avanço que torna ainda menos compreensível por que essa recente evolução deva ser abandonada", disse ele, referindo-se à ameaça dos Estados Unidos de suspender as inspeções e invadir o Iraque.

Ele disse também que a Alemanha não vê necessidade de uma segunda resolução da ONU. Os EUA e a Grã-Bretanha querem uma resolução que autorize os planos de invasão e desarmamento do Iraque.