Minha lava é para a menina dos olhos marinhos
Na vila os cães uivam - até encher o saco
à lua imponente que cresce
no céu lavado de temporal.
Ainda que menos, ainda está quente.
Mais quente será aquele chatô
Modesto e charmoso ladeando o Una
Ou eu só olho pro lugar errado
Ou todos estão presos ensimesmados
Só sei que São Paulo é antártica sem você
Eu tremo lembrando da nesga que me tomou
o sol das três da tarde que saiu verde
pelo teu olho até o meu, e me sequestrou
Foi tanto, é tanto e faz tanto
Que é como uma lava impetuosa,
Um escudo isento de razão
Meu escafandro de lava
Me afunda e ameaça:
Morra! Renasça!
Mas foi tanto, é tanto e faz tanto
Que o visto voluntário
Pra afundar mesmo: sei meu destino.
Ir às suas profundezas,
seu cárcere marinho
Vou encantado, mas revoluto
Me enche de fúria histórica
Ouvir sua doce voz
sem minha balaclava e o ar
Submersa, uma sirena, violenta
Me arranca lágrimas quando me invade
Como uma cauterização de ouvido
Mas foi tanto, é tanto e faz tanto
Que surgimos daquela mesma célula
Que ainda que a pressão me mate, te entendo
Viemos do mesmo elemento.
Eu não posso fazer nada, só senti-la profundamente
São Paulo é antártica sem você
Então, de repente, pára seu grito
Quebra seu vidro
Sai pra brincar comigo
Quem me dera ser da minha conta o lugar dessa chave
Mas pouco importa: o planeta vai esfriar um dia,
Meu magma por você, nunca
Bom é quando você enche o peito de ar
Arranca seu rabo de peixe
E foge comigo pro mundo dos vivos
Então - longe daquelas profundezas frias
Temos sol, temos lua, temos chuva, gatos e bruxas
Temos voz, qualquer bobagem parece Nina
Foi tanto, é tanto e faz tanto
Que até te ouvir xingando os cães do Nilo
É música na Sampantártica
Rogo: mate seus monstros marinhos
Eu sempre sei onde você está!
Você está sempre, sempre, sempre comigo!
Mate seus monstros marinhos e vem brincar comigo
O Atlântico não é um abismo
É uma imensa lente de aumento
Por ela vejo que minha lava -
Nesse mar besta de umbigos -
É para a menina dos olhos marinhos
Vini Gorgulho
14 de janeiro de 2008
[Para Helô, minha companheira de vida]
à lua imponente que cresce
no céu lavado de temporal.
Ainda que menos, ainda está quente.
Mais quente será aquele chatô
Modesto e charmoso ladeando o Una
Ou eu só olho pro lugar errado
Ou todos estão presos ensimesmados
Só sei que São Paulo é antártica sem você
Eu tremo lembrando da nesga que me tomou
o sol das três da tarde que saiu verde
pelo teu olho até o meu, e me sequestrou
Foi tanto, é tanto e faz tanto
Que é como uma lava impetuosa,
Um escudo isento de razão
Meu escafandro de lava
Me afunda e ameaça:
Morra! Renasça!
Mas foi tanto, é tanto e faz tanto
Que o visto voluntário
Pra afundar mesmo: sei meu destino.
Ir às suas profundezas,
seu cárcere marinho
Vou encantado, mas revoluto
Me enche de fúria histórica
Ouvir sua doce voz
sem minha balaclava e o ar
Submersa, uma sirena, violenta
Me arranca lágrimas quando me invade
Como uma cauterização de ouvido
Mas foi tanto, é tanto e faz tanto
Que surgimos daquela mesma célula
Que ainda que a pressão me mate, te entendo
Viemos do mesmo elemento.
Eu não posso fazer nada, só senti-la profundamente
São Paulo é antártica sem você
Então, de repente, pára seu grito
Quebra seu vidro
Sai pra brincar comigo
Quem me dera ser da minha conta o lugar dessa chave
Mas pouco importa: o planeta vai esfriar um dia,
Meu magma por você, nunca
Bom é quando você enche o peito de ar
Arranca seu rabo de peixe
E foge comigo pro mundo dos vivos
Então - longe daquelas profundezas frias
Temos sol, temos lua, temos chuva, gatos e bruxas
Temos voz, qualquer bobagem parece Nina
Foi tanto, é tanto e faz tanto
Que até te ouvir xingando os cães do Nilo
É música na Sampantártica
Rogo: mate seus monstros marinhos
Eu sempre sei onde você está!
Você está sempre, sempre, sempre comigo!
Mate seus monstros marinhos e vem brincar comigo
O Atlântico não é um abismo
É uma imensa lente de aumento
Por ela vejo que minha lava -
Nesse mar besta de umbigos -
É para a menina dos olhos marinhos
Vini Gorgulho
14 de janeiro de 2008
[Para Helô, minha companheira de vida]
Marcadores: poesia
2 Comments:
Karu Vini:
Para mim poesia no tiene meio termo. Ou rola ou não rola. A tua fluiu de modo completo, e o "foi tanto, é tanto e faz tanto..." ecoou em minhas entranhas, como testemunho de dores-e-amores antigos, presentes e por vir. Sem o quê, acredito, o poema nem deveria existir.
Obrigado, cara.
Alê
clap, clap, clap.
vá escrever bem assim noutro mundo também!
psrabens, meu amigo.
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