fevereiro 08, 2003

Gangues de Nova Iorque - Land of the fee, home of the grave

Carnificina. Desdenhando de uma nova vontade da mais diversa gama de gente do mundo que procura falar num uníssono positivo, o governo dos EUA se revela, hoje, publicamente um Estado de crime, um império mafioso, financiado pelo petróleo e pela ganância de poderosos.
Em meio a realidade da flácida geopolítica atual, Martin Scorcese enfim registrou a existência do elo perdido histórico em que o Estado e o crime - que forjaram o império que nós vemos hoje cada vez mais voraz e violento - ainda não se sabiam razoavelmente partes de sistemas diferentes.
É claro que poder e crime nunca estiveram verdadeiramente distantes em toda a história, porém, é impressionante ver um um filho da autoproclamada América mostrar tão cruamente essa verdade no atual momento.
Não é à toa, que a frase que encerra o filme lembra que a história que se acabou de ver é um fóssil esquecido, profundamente enterrado da história (ou seria estória) estadunidense. A história em questão é o livro As Gangues De Nova York - Uma Historia Informal Do Submundo, escrito em 1928 por Herbert Asbury e que ganhou um prefácio de Jorge Luis Borges. Eles não queriam se lembrar.
Mas agora é tarde. Scorsese mostra que os beligerantes Estados Unidos da America e seu povo chegaram onde chegaram porque foram fortes suas sementes: a democracia (um sistema de poder e controle baseado na sua própria validação via voto proveniente da coação ou propaganda), o ódio e a intolerância (que sustentam e transformam em ideais o medo de ter que dividir seu pão e formar uma nova comunidade com quem não é de seu clã) e o crime (que procura de forma organizada arrematar o que a democracia e a intolerância não conseguem por si só).
Vale a pena ver Gangues de Nova Iorque (não vou fazer sinopse. Tem duas boas aqui). A infâmia e, mais especificamente a máfia, sempre renderão boas estórias pra se contar. A máfia é um fetiche estadunidense, bem como seu ufanismo. Scorsese aproveita para falar do nascimento da máfia e dos estados unidos da America. Exibe-os sem vergonha de mostrar do que é feito seu povo, sua nação. Land of the fee, home of the grave, eu diria. One nation under dog, eu diria.
Vá ver. A tempo, Daniel Day Lewis mais uma vez brilhante, na pele de Bill, o Açougueiro, faz a gente de fantoche e usa como fios nossos nervos...