Olhasó! Achei uma matéria bacana e velha sobre o Sidney Miller escrita pelo jornalista Mauro Dias. Publico aqui ela editada, mas se quiser leia ela inteira aqui:
Sidney Miller planejava montar um show em que dividiria o palco com o violonista Maurício Tapajós. Tinha várias músicas novas e quis mostrar o repertório para o MPB-4, que havia feito enorme sucesso cantando uma de suas composições - a tristíssima, desalentada, desesperançada canção Pois É, pra Quê?. Gravou uma fita com cinco das músicas novas e entregou-a a Miltinho, o violonista do quarteto. Miltinho ouviu, adorou, guardou.
Isso foi no começo de 1980. No dia 16 de julho, Sidney Miller morreu. Tinha 35 anos. Oficialmente, morreu de câncer. É o que consta das notícias de época, não contestadas. Um delicado silêncio encobriu o gesto de desespero - Sidney trabalhava na Funarte, onde esteve naquele dia mesmo, de onde saiu, ao fim do expediente, para nunca mais. Miltinho não voltou a ouvir a fita. (...)
(...) Sidney Álvaro Miller Filho nasceu no Rio, em 1945. Começou a compor na adolescência, estudou Economia - não se formou -, estreou para o público com o samba Queixa, uma parceria a seis mãos com Zé Kéti e Paulo Thiago que Ciro Monteiro interpretou no primeiro festival da TV Excelsior. Em 1967, ele mesmo defendeu a épica A Estrada e o Violeiro, num dueto com Nara Leão.
Ganhou o prêmio de melhor letra no terceiro festival da TV Record.
Concorria, entre outras, com Roda Viva, de Chico Buarque, Ponteio, de Edu Lobo e Capinam, Domingo no Parque, de Gilberto Gil, Alegria, Alegria, de Caetano Veloso.
A corajosa Nara foi sua grande incentivadora. Nelson Lins e Barros os apresentou. Ele levou uma penca de músicas para ela. Nara gravou cinco, em 1966, num mesmo disco - num tempo em que os discos tinham, no máximo, 12 faixas. Entre as escolhidas de Nara estavam Pede Passagem (que deu nome ao disco), O Circo ("Vai, vai, vai, começar a brincadeira/ Tem charanga tocando a noite inteira").
De repente, todo mundo cantava O Circo. Era a música que os pais cantavam para os filhos - e os filhos cantavam junto os versos desalentados: "De chicote e cara feia, o domador fica mais forte/ Meia volta, volta e meia, meia vida, meia morte/ Terminado o seu batente, de repente a fera some/ Domador que era valente em outras feras se consome/ Seu amor indiferente, sua vida, sua fome."
O percurso artístico foi errático. Sidney era um tímido incurável que se recolheu aos bastidores. Gravou três discos, entre 1967 e 1974, que estão fora de mercado: Sidney Miller, Do Guarani ao Guaraná e Línguas de Fogo. Foi um grande produtor de espetáculos, musicou filmes e peças de teatro, escreveu um livro. Fez sambas (Pede Passagem, Alô Fevereiro), toadas (A Estrada e o Violeiro), retrabalhou cantigas de roda (De Marré de Ci, Passa, Passa, Gavião, A Menina e a Agulha), flertou com o tropicalismo (em Do Guarani ao Guaraná).
Seu talento só encontrava comparação no de Chico Buarque, e na carreira curta, a obra densa guarda alguns dos versos mais tristes da história da música brasileira, como os de Pois É, pra Quê?: "Que rapaz é esse, que estranho canto/ Seu rosto é santo, seu canto é tudo/ Saiu do nada, da dor fingida/ Caiu na estrada, fugiu na vida/ A menina aflita ele não quer ver/ A guitarra excita, pois é: pra quê?"
Sidney Miller planejava montar um show em que dividiria o palco com o violonista Maurício Tapajós. Tinha várias músicas novas e quis mostrar o repertório para o MPB-4, que havia feito enorme sucesso cantando uma de suas composições - a tristíssima, desalentada, desesperançada canção Pois É, pra Quê?. Gravou uma fita com cinco das músicas novas e entregou-a a Miltinho, o violonista do quarteto. Miltinho ouviu, adorou, guardou.
Isso foi no começo de 1980. No dia 16 de julho, Sidney Miller morreu. Tinha 35 anos. Oficialmente, morreu de câncer. É o que consta das notícias de época, não contestadas. Um delicado silêncio encobriu o gesto de desespero - Sidney trabalhava na Funarte, onde esteve naquele dia mesmo, de onde saiu, ao fim do expediente, para nunca mais. Miltinho não voltou a ouvir a fita. (...)
(...) Sidney Álvaro Miller Filho nasceu no Rio, em 1945. Começou a compor na adolescência, estudou Economia - não se formou -, estreou para o público com o samba Queixa, uma parceria a seis mãos com Zé Kéti e Paulo Thiago que Ciro Monteiro interpretou no primeiro festival da TV Excelsior. Em 1967, ele mesmo defendeu a épica A Estrada e o Violeiro, num dueto com Nara Leão.
Ganhou o prêmio de melhor letra no terceiro festival da TV Record.
Concorria, entre outras, com Roda Viva, de Chico Buarque, Ponteio, de Edu Lobo e Capinam, Domingo no Parque, de Gilberto Gil, Alegria, Alegria, de Caetano Veloso.
A corajosa Nara foi sua grande incentivadora. Nelson Lins e Barros os apresentou. Ele levou uma penca de músicas para ela. Nara gravou cinco, em 1966, num mesmo disco - num tempo em que os discos tinham, no máximo, 12 faixas. Entre as escolhidas de Nara estavam Pede Passagem (que deu nome ao disco), O Circo ("Vai, vai, vai, começar a brincadeira/ Tem charanga tocando a noite inteira").
De repente, todo mundo cantava O Circo. Era a música que os pais cantavam para os filhos - e os filhos cantavam junto os versos desalentados: "De chicote e cara feia, o domador fica mais forte/ Meia volta, volta e meia, meia vida, meia morte/ Terminado o seu batente, de repente a fera some/ Domador que era valente em outras feras se consome/ Seu amor indiferente, sua vida, sua fome."
O percurso artístico foi errático. Sidney era um tímido incurável que se recolheu aos bastidores. Gravou três discos, entre 1967 e 1974, que estão fora de mercado: Sidney Miller, Do Guarani ao Guaraná e Línguas de Fogo. Foi um grande produtor de espetáculos, musicou filmes e peças de teatro, escreveu um livro. Fez sambas (Pede Passagem, Alô Fevereiro), toadas (A Estrada e o Violeiro), retrabalhou cantigas de roda (De Marré de Ci, Passa, Passa, Gavião, A Menina e a Agulha), flertou com o tropicalismo (em Do Guarani ao Guaraná).
Seu talento só encontrava comparação no de Chico Buarque, e na carreira curta, a obra densa guarda alguns dos versos mais tristes da história da música brasileira, como os de Pois É, pra Quê?: "Que rapaz é esse, que estranho canto/ Seu rosto é santo, seu canto é tudo/ Saiu do nada, da dor fingida/ Caiu na estrada, fugiu na vida/ A menina aflita ele não quer ver/ A guitarra excita, pois é: pra quê?"
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