março 20, 2003

Membros do MC5 se reunem pela primeira vez em 30 anos


Você que me conhece vai pensar: "o que deu no cara? Pirou de vez? Vai escrever sobre MC5 e põe uma foto do cuzão do N'Sinc?!!!!. Vai se foder Vini!".

Calma Jack, vamos por partes. É isso mesmo crianças. O guitarrista Wayne Kramer, o baixista Michael Davis e o batera Dennis Thompson estiveram sob o palco do 100 Club in Londres no último dia 13/3 reunidos para tocar petardos do MC5, a lengendária banda que integraram entre 1968 e 1974 e que ajudou a inseminar o punk rock.
Deve ter sido a coisa mais linda. Para "representar" os mortos do grupo - o vocalista Rob Tyner e o guitarrista Fred "Sonic" Smith, ambos mortos por ataque cardíaco, respectivamente, em 18/09/91 e 04/11/94 - estiveram sob o palco Lemmy (Motorhead), Dave Vanian (the Damned), Nicke Andersson (Hellacopters), Ian Astbury (the Cult) e Mani (the Stone Roses).

O que destoava era o seguinte: o show, além da reunião dos revolucionários hippies-punks, aproveitava pra lançar uma linha de produtos da confecção Levi's que fazia menção à iconografia da banda. "O QUEEEE?!!!!!", perguntou Jack, cujas mãos já avançavam sobre meu pescoço herege. Pois é. É isso mesmo.

Eu não chamaria os caras de vendidos assim tão facilmente. Kramer se saiu brilhantemente dessa história. Ele disse que sempre acreditaram que não era possível destruir o sistema, mas sim cooptá-lo a reproduzir suas mensagens (e foi o que fizeram, os caras já foram artistas da Atlantic!). Levou 30 anos, mas hoje uma grande e centenária compania estadunidense quer vincular sua imagem ao discurso dos caras. E um garoto cabeça-de-bagre superinfluente nas cabecinhas-de-bagre adolescentes de todo o mundo foi veículo de disseminação desse discurso na capa de uma influente revista de música. Alguém aí pensou em mídia tática?

Bem, se você não está satisfeito e acha que eu estou com um papo furado de fã (você pode não estar completamente errado, hein), leia o Relatório Kramer: Carta Aberta aos Fãs e Críticos - Justin Timberlake vestiu uma camiseta do MC5 (e o MC5 gostou). Trata-se de um muito inteligente e eloquente texto de Kramer sobre toda a polêmica da reunião MC5/Levi's.

Então crianças? Chocados? Frustrados? Se sentindo traídos por seus heróis? Bem, eu vou continuar usando o meu botton do MC5, a banda que acabou ha cerca de 30 anos. Se tivesse a oportunidade de ver o Kick Out The Jeans tocar, certamente iria e muito feliz. Sempre achei o Kramer um cara bacana. E acho que ele está certo. Ganhar dinheiro não é algo mau se você o ganha honestamente e o usa com inteligência. Essa definitivamente não é a questão. Os tempos são outros, a dicotomia é bem outra (se é que ainda é dicotomia).

Moral da história crianças: se você quer fazer a revolução, não espere por heróis. Eles não virão. Faça-a você mesmo. Kick Out The Jams, Motherfuckers!!!