A ESTIRPE DE TROVADORES DE WITTHMAN
Esses são meus prediletos! Quando o poeta e pensador libertário estadunidensse Walt Whittman lançou seu livro Folhas na Relva, em 1855, ele sonhava em inspirar uma race of singers - que eu traduzo livremente como estirpe de trovadores - cuja índole e as canções louvassem a classe trabalhadora e colaborassem na concretização da democracia. Seu sonho se tornou realidade, pois temos heróis da classe trabalhadora desde Woody Guthrie, passando por Dylan, Lennon, o punk rock inglês e californiano, Billy Bragg, até mais recentemente The [International] Noise Conspiracy e Atari Teenage Riot.
No Brasil, há o velho samba dos morros baianos, cariocas e paulistas, cuja crônica tinha uma ácida ironia; o lamento sudestino da moda de viola, que mostrava com poesia o sofrimento do sertanejo; a tradição nordestina do baião, dos folguedos, do repente e o cordel cuja poesia cantada também já serviu de veículo de expressão popular. Isso pra não falar de toda a geração da música de protesto dos anos da ditadura militar e a reação claustrofóbica da desesperada juventude punk e pós-punk que insurgiu na abertura política dos anos 80. E depois teve o manguebeat. Hoje as bandas e os artistas estão escondidos, a mídia não quer dar conta delas. Elas estão lá, mas não estão vendendo. Porque será?
O consumo se tornou a mais forte e influente religião do planeta, uma fé doentia que não respeita qualquer fronteira. Por conta disso, de fato, a classe trabalhadora tem usualmente dado ouvidos a qualquer um, mas a nenhum artista que procure descascar e expôr o miolo da cebola da dominação cultural e econômica que vivemos no mundo atual.
Talvez o rap cumpra esse papel, mas ele também assusta uma parte do povão por alguns de seus elementos fazerem culto ao banditismo, não como irionia, mas como autoafirmação do homem, negro e pobre que não encontra uma porta aberta na sociedade de consumo para progredir. E, afinal, o povo está farto de violência, de ser violentado ininterruptamente, seja pela própria famíla, pelo vizinho, pelo patrão, pela polícia etc.
O rock de protesto quase inexiste nas prateleiras e nos canais de informação, e se você o conhece e aprecia, provavelmente você se encontra, por ora, na classe média. Quando o negócio tá na mão, como System Of a Down, MTV e rádios rock procuram descontextualizar a voz desses grupos ao falar deles exclusivamente como um produto a ser consumido, assim como uma camiseta do Che Guevara é tão revolucionária quanto uma do Piu-piu. De forma generalizada, é o rock burro que está a disposição do povão.
Pois é... a máquina é esperta. Gente burra é mais fácil de controlar, de obedecer à ordens de comando do tipo "compre"! A voz dos atuais verdadeiros heróis da classe operária não tem espaço, mas existe certamente, e seus donos estão espalhados pelas ruas, o suor brilhando ao sol do trabalho muscular, enquanto dentro de suas cabeças há poesia e revolução ao gostos de seus iguais. É preciso abrir um canal para que suas canções conheçam a luz do dia e o apreço do povo. E não importa mesmo que tipo de música você toque, desde que ela seja honesta, genuína, seja intelegível pelo público e colabore para a transformação.
O brasileiro é um povo dócil, isso é verdade. Mas está cansado, pois já são pelo menos 503 anos, na contagem de homem branco, de perpetuação do sofrimento em prol do sucesso da elite. Temos que parar de pensar em música, em cultura, como produtos. É gente, é a emanação sensível da vida coletiva mostrando que respira. Só falta oportunidade. Oportunidade do artista se mostrar e oportunidade para o povo apreciar.
Não é verdade que há uma crise criativa rondando a música brasileira. Esse é papo de executivo de gravadora e quando eles falam em crise criativa, quem está sem inspiração não é o artista e o povo na rua, mas os produtores de bunda music em série, que não conseguiram, naquela semana, justificar seus mega salários com uma nova atração bilionária no Gugu ou no Faustão.
E, apesar da indústrial cultural ter instaurado padrões de comportamento e controle da massa nos últimos 70 anos, vale lembrar que o samba e muitos outros ritmos regionais, já foram o "Jornal Nacional" do povo, já foram um genuíno instrumento de expressão de um povo. Portanto, não é justo, ou mesmo crível, dizer que o povo gosta mesmo é de lixo. Fique certo: se você não tem nada pra comer, a não ser lixo, você vai comer lixo.
Nem todo o samba e sertanejo é coisa de corno, nem todo o nordeste é bunda que canta, nem toda a música de dancar e o rock são burros, nem toda a MPB é fútil e pretensiosa.
Um povo sem identidade não progride. O caráter mestiço de tudo o que é brazuca, a antropofagia, tem que ser estimulada. O povo brasileiro só se reconhece no espelho quando vê que sua terra faz parte do globo, meio que rejeita seu passado primitivo, quer um tal de "pogresso" (sic) que relaciona frequentemente com a cultura estadunidense, os EUA que há uns 70 anos são a nova colonia.
Se é assim, que assim seja. Tem de pôr os cabra pra misturar mesmo. Tem de ser tático. Fazer o povo pensar na merda toda não é difícil. Já dói na pele, já está ali. Mas para libertar o povo da senzala da sociedade de consumo, só usando os mesmos trejeitos, o mesmo jogo de sedução do que se convencionou chamar generalizadamente de mídia. Aí você ganha espaço e reempodera uma nova estirpe de trovadores, novos heróis da classe operária como queria o titio Walt. Eu sei que a arte não precisa ter uma função social. Mas se tem, o artista colabora para que o ser humano como coletivo progrida mental, material, sensual e espiritualmente. E esses são meus prediletos!
Esses são meus prediletos! Quando o poeta e pensador libertário estadunidensse Walt Whittman lançou seu livro Folhas na Relva, em 1855, ele sonhava em inspirar uma race of singers - que eu traduzo livremente como estirpe de trovadores - cuja índole e as canções louvassem a classe trabalhadora e colaborassem na concretização da democracia. Seu sonho se tornou realidade, pois temos heróis da classe trabalhadora desde Woody Guthrie, passando por Dylan, Lennon, o punk rock inglês e californiano, Billy Bragg, até mais recentemente The [International] Noise Conspiracy e Atari Teenage Riot.
No Brasil, há o velho samba dos morros baianos, cariocas e paulistas, cuja crônica tinha uma ácida ironia; o lamento sudestino da moda de viola, que mostrava com poesia o sofrimento do sertanejo; a tradição nordestina do baião, dos folguedos, do repente e o cordel cuja poesia cantada também já serviu de veículo de expressão popular. Isso pra não falar de toda a geração da música de protesto dos anos da ditadura militar e a reação claustrofóbica da desesperada juventude punk e pós-punk que insurgiu na abertura política dos anos 80. E depois teve o manguebeat. Hoje as bandas e os artistas estão escondidos, a mídia não quer dar conta delas. Elas estão lá, mas não estão vendendo. Porque será?
O consumo se tornou a mais forte e influente religião do planeta, uma fé doentia que não respeita qualquer fronteira. Por conta disso, de fato, a classe trabalhadora tem usualmente dado ouvidos a qualquer um, mas a nenhum artista que procure descascar e expôr o miolo da cebola da dominação cultural e econômica que vivemos no mundo atual.
Talvez o rap cumpra esse papel, mas ele também assusta uma parte do povão por alguns de seus elementos fazerem culto ao banditismo, não como irionia, mas como autoafirmação do homem, negro e pobre que não encontra uma porta aberta na sociedade de consumo para progredir. E, afinal, o povo está farto de violência, de ser violentado ininterruptamente, seja pela própria famíla, pelo vizinho, pelo patrão, pela polícia etc.
O rock de protesto quase inexiste nas prateleiras e nos canais de informação, e se você o conhece e aprecia, provavelmente você se encontra, por ora, na classe média. Quando o negócio tá na mão, como System Of a Down, MTV e rádios rock procuram descontextualizar a voz desses grupos ao falar deles exclusivamente como um produto a ser consumido, assim como uma camiseta do Che Guevara é tão revolucionária quanto uma do Piu-piu. De forma generalizada, é o rock burro que está a disposição do povão.
Pois é... a máquina é esperta. Gente burra é mais fácil de controlar, de obedecer à ordens de comando do tipo "compre"! A voz dos atuais verdadeiros heróis da classe operária não tem espaço, mas existe certamente, e seus donos estão espalhados pelas ruas, o suor brilhando ao sol do trabalho muscular, enquanto dentro de suas cabeças há poesia e revolução ao gostos de seus iguais. É preciso abrir um canal para que suas canções conheçam a luz do dia e o apreço do povo. E não importa mesmo que tipo de música você toque, desde que ela seja honesta, genuína, seja intelegível pelo público e colabore para a transformação.
O brasileiro é um povo dócil, isso é verdade. Mas está cansado, pois já são pelo menos 503 anos, na contagem de homem branco, de perpetuação do sofrimento em prol do sucesso da elite. Temos que parar de pensar em música, em cultura, como produtos. É gente, é a emanação sensível da vida coletiva mostrando que respira. Só falta oportunidade. Oportunidade do artista se mostrar e oportunidade para o povo apreciar.
Não é verdade que há uma crise criativa rondando a música brasileira. Esse é papo de executivo de gravadora e quando eles falam em crise criativa, quem está sem inspiração não é o artista e o povo na rua, mas os produtores de bunda music em série, que não conseguiram, naquela semana, justificar seus mega salários com uma nova atração bilionária no Gugu ou no Faustão.
E, apesar da indústrial cultural ter instaurado padrões de comportamento e controle da massa nos últimos 70 anos, vale lembrar que o samba e muitos outros ritmos regionais, já foram o "Jornal Nacional" do povo, já foram um genuíno instrumento de expressão de um povo. Portanto, não é justo, ou mesmo crível, dizer que o povo gosta mesmo é de lixo. Fique certo: se você não tem nada pra comer, a não ser lixo, você vai comer lixo.
Nem todo o samba e sertanejo é coisa de corno, nem todo o nordeste é bunda que canta, nem toda a música de dancar e o rock são burros, nem toda a MPB é fútil e pretensiosa.
Um povo sem identidade não progride. O caráter mestiço de tudo o que é brazuca, a antropofagia, tem que ser estimulada. O povo brasileiro só se reconhece no espelho quando vê que sua terra faz parte do globo, meio que rejeita seu passado primitivo, quer um tal de "pogresso" (sic) que relaciona frequentemente com a cultura estadunidense, os EUA que há uns 70 anos são a nova colonia.
Se é assim, que assim seja. Tem de pôr os cabra pra misturar mesmo. Tem de ser tático. Fazer o povo pensar na merda toda não é difícil. Já dói na pele, já está ali. Mas para libertar o povo da senzala da sociedade de consumo, só usando os mesmos trejeitos, o mesmo jogo de sedução do que se convencionou chamar generalizadamente de mídia. Aí você ganha espaço e reempodera uma nova estirpe de trovadores, novos heróis da classe operária como queria o titio Walt. Eu sei que a arte não precisa ter uma função social. Mas se tem, o artista colabora para que o ser humano como coletivo progrida mental, material, sensual e espiritualmente. E esses são meus prediletos!
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