setembro 15, 2003

DA SÉRIE "VOCÊ É UM HOMEM OU UM RATO"?

O texto que reproduzo abaixo é do Rodney Brocanelli e foi publicado em seu blog, o http://onzenet.blogspot.com. Primeiro aparece um texto (de 28 de julho passado, publicado no suplemento Folhateen) do Álvaro Pereira Júnior tornando público corajosamente (hehe) o que ele acha que alguém precisa para ser um crítico musical. Na sequência, um spam dizendo o que é necessário para ser o Álvaro Pereira Júnior:

E eis que nosso amigo Álvaro Pereira Jr. decidiu escrever sobre o ofício da crítica. Muitos de seus leitores semanais no Folhateen pediram para que ele desse algumas dicas de como ser um bom crítico de música. Álvaro listou sete itens para começar. Vamos a eles:

1) Ouça música desesperadamente. Você não precisa ser músico, saber diferenciar um ré de um mi. Mas precisa ter conhecimentos históricos, entender de onde vem o tipo de música sobre o qual você escreve e como as coisas evoluíram até hoje. Só conhecer a discografia completa do Weezer não
basta.
2) Leia livros e revistas desesperadamente. Você quer criar um estilo, certo? Então precisa ler montanhas de revistas e livros, de todos os gêneros, para chegar a um jeito próprio de escrever. Não adianta só ler "Escuta Aqui" e a coluna do Lúcio Ribeiro na Folha Online. Assim, acaba virando clone. Mais um.
3) Aprenda inglês. Cerca de 99,99% do que conta no chamado "mundo das artes" acontece em inglês. Se você não sabe a língua direito, arrume outra coisa para fazer. Ser crítico de música não dá.
4) Aceite sua insignificância. Ninguém saudável compra ou deixa de comprar um CD por causa de uma crítica. Em geral, críticas de música são lidas por nerds, músicos e outros críticos de música. O leitor normal -aquele que tem uma vida, família, amigos etc.- está pouco se lixando para o que o crítico pensa.
5) Não fique amigo de músicos. Bandas -principalmente as mais novas- sofrem muito. Dão shows sem ganhar nada, não conseguem divulgação etc. etc. Gravar um disco é mais difícil ainda. Só que é melhor não se envolver com isso,
senão você vai ficar com pena dos músicos e fazer sua crítica com base nesse contexto e não na simples audição do CD. Os caras da banda podem ser gente boa, batalhadores e honestos, a baixista pode ser uma gostosa, mas, se
fizeram um disco ruim, é isso o que você tem de dizer.
6) Pratique a crítica destrutiva. Enfie uma coisa na cabeça: você e os músicos ou você e as gravadoras não estão no mesmo barco. E você não tem papel algum na construção de nenhum tipo de cena. No Brasil, a prática do compadrio e da "brodagem" é corrente entre jornalistas, músicos e
gravadoras. Todo mundo é amiguinho e se ajuda utuamente. Gente talentosa perde tempo escrevendo só sobre o que gosta ou finge que gosta. Fuja dessa.
7) Prepare-se para a realidade de uma redação. Pense naquele cara -ou moça- inteligente, moderno, que passa o dia escutando música e, de vez em quando, escreve sobre um CD que lhe chamou a atenção. Agora esqueça isso. As
críticas assinadas são uma parte muito pequena do que o jornalista faz na redação, o que inclui diagramar páginas, escrever títulos, bolar legendas de fotos, escrever matérias não-assinadas, preparar notinhas, reescrever textos dos outros, ser esculachado pelo chefe etc.

Ao final, ele diz que tinha mais dicas, mas que o espaço havia acabado. Paricularmente, gostaria de saber se ele iria tocar em alguns pontos mais delicados. Um deles: o crítico deve entrar em trincheiras, como ele mesmo e seus parceiros do programa Garagem fazem? Álvaro é um defensor ferrenho do rock, digamos, mais alternativo, e vive alfinetando os barões e baronesas da MPB contemporânea. Alías, isso é muito comum na crítica musical, existem os especialistas em rock, jazz, techno, música classica, etc. Na crítica de cinema é diferente. Não existe aquele sujeito que escreve apenas sobre o western, ou então apenas sobre filmes de mistério e por aí vai. Críticos como Inácio Araújo estão preparados para escrever análises sobre filmes de todos os gêneros.

Num de seus conselhos, Álvaro diz para não se fazer amizades com músicos. Até certo ponto, ele está certo, mas não por causa de sua justificativa. Já vi muitos críticos enfrentarem problemas justamente pelo fato de serem honestos e dizerem aquilo que pensavam de certos lançamentos das bandas de seus amigos. Um exemplo é o de Thomas Pappon, que enfrentou sérios problemas certa vez ao escrever honestamente sobre um disco do Ira!:
"o Ira! estava lançando o "Psicoacústica" e eu fiz o press-release e eles ficarm putos com o que eu escrevi. O Nazi e o André vieram até minha casa possessos de raiva. Eu não me lembro exatamente o porque, mas o "press-release" deveria ter alguma coisa....eu não tinha gostado do disco e deixei isso transparecer , o que é uma coisa estúpida, deveria ter me recusado a escrever, mas eu era muito amigo deles. Isso causou um mal-estar que durou uns dois anos...uns dois anos que eu não cruzava o Nazi. De amigos muito próximos, a gente virou...sabe".

Posso estar enganado, mas sobrou uma farpa ao jornalista Ricardo Alexandre. Isso quando o Álvaro diz que o crítico não tem participação na construção de qualquer tipo de cena. Um dos motes da extinta revista Frente, da qual Alexandre era um de seus responsáveis, era justamente o de "reconstruir a cena musical". Naquela entrevista que eu publiquei no Observatório da Imprensa, Ricardo falou de "o outro cara orgulhoso de ter escrito um livro em quatro meses copiando tudo na internet e ganhando espaço no Fantástico dado por seu amigo..." Bem, é só usar um pouco a cabeça para sacar os personagens citados por Alexandre.

De qualquer forma, já está rolando na Internet uma réplica a esse mais recente polêmico artigo. No minímio, é engraçada:


QUER SER ÁLVARO PEREIRA JUNIOR?

1) Mude-se para San Francisco.
2) Descole uma coluna bacana na Folhateen.
3) Desanque sem pudor qualquer banda tapuia.
4) Aceite sua magnitude. Acredite piamente que você (junto com o Lúcio Ribeiro) é o farol do jornalismo musical tupiniquim.
5) Eleve a condição de sublime qualquer banda anglo-saxônica (escandinava também serve) da qual você supõe que o leitor silvícola nunca ouviu falar.
6) Sustente opiniões indefensáveis (i.e. Kelly Key é a melhor coisa a surgir no cenário nacional desde (preencha a lacuna com qualquer sandice).
7) Defenda categoricamente a teoria de que os roqueiros gaúchos só se mudam para São Paulo porque em Porto Alegre todos têm inveja dos paulistanos.
8) Assista a "Quase Famosos" e, depois de dois anos, nutra a convicção de que você é o Lester Bangs brazuca.
9) Leia a revista Brasa e, depois de sete anos, escreva um texto com o tema "Quer ser crítico de música?".
10) Seja manda-chuva de um dos programas de maior audiência da maior emissora de televisão da América Latina.
11) Garanta que este programa mantenha a tradição de ser, por mais de 30 anos, o mais enfadonho, piegas e constrangedor produto exibido em horário nobre da TV
brasileira.
12) Cague regras.
13) Enfie o dedo bem no meio do seu cu e rasgue com toda a força.