junho 17, 2005

"Quanto Vale ou é Por Quilo?"

"Quanto Vale ou é Por Quilo?" é fist fucking na ferida. Sergio Bianchi dá a porrada que os samaritanos precisavam pra acordar. Mas acho que muita gente vai ficar com medo de ir ao cinema pra assistir. Principalmente gente que trabalha em projetos sociais ou com responsabilidade social empresarial, e não tem peito pra suportar crítica sob a desculpa de que a "solidariedade" - termo repetido à exaustão no filme pra frisar o que já está a tempos banalizado fora da salas de cinemas, nos jornais, nas ruas, na boca dos "solidários" - está acima de crítica.

Porque há um Terceiro Setor rico e um pobre. Um que brilha e outro que rala. Uns que mantém a "ordem e o progresso" e outros terminantemente envolvidos com uma transformação da sociedade pra melhor. Um que beija a mão da oligarquia pra continuar existindo. Outro que dá as mãos pra comunidade e pra outras organizações para que o avanço social seja uma construção coletiva e legítima.

Eu cansei de ver ONGs geridas por madames ou neo-hippies de classe média alta bem intencionados. Se a mudança não parte da base, então estamos apenas dando uma nova roupagem à oligarquia.

E há um problema muito maior. O capitalismo e, nos últimos 20 anos, o neo-liberalismo acabaram com a gente. Não temos nada dos serviços básicos que o poder público deveria proporcionar como retorno da montueira de impostos que pagamos. Mas temos um sistema afinadíssimo de comércio.

Enfim, pra ser cidadão tem que suar sangue. Pra ser consumidor é facinho: somos bombardeados 24 horas por dia, 7 dias por semana, 12 meses ao anos, segundo a segundo, com "convites" ao consumo. E somos jogados numa armadilha que te destrói te fazendo crer que você só é alguém se consome. Senão, é nada. Vide a gente que mora nas ruas. São fantasmas assombrosos. Mas, para não olhar pra eles, basta olhar para o colorido outdoor logo acima dizendo "Amo Muito Tudo Isso".

A periferia tem de engolir o centro. Mastigá-lo bem, pra não fazer mal e digerir, absorver sua energia boa e cagar seus piores vícios.

E acredito que os tempos são outros. A coisa tá mudando. O sangue chegou nos olhos. O povo está cansado. E a América Latina já está numa nova onda de convulsão. Até quando nós o povo e o "PT no pudê" vai segurará-la nas nossas fronteiras?

Quero ver o circo pegar fogo!!!

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Foda foi sair do cinema e imediatamente me deparar com a lógica do capitão-do-mato ou do feitor. Gente da mesma classe social pisando no pescoço do outro pra poder ir um degrau acima. Uma galera fazendo manutenção da rede de efluentes (leia-se bueiros e esgotos) cortavam a machadadas um duto estranho, que não era oco e chamava a atenção pelo aspecto. Um catador de papelão e seu cachorro param pra ver o trabalho, atrapalhando o trânsito da Augusta. Os caras do serviço do duto começam a ralhar com o rapaz por conta disso. Demos passagem pro catador sair xingando as mães e os cornos de todos ali. E ele estava certo. Porque bastava pedir com educação. Mas uns tinham o uniforme da "firma" e o outro, todo mulambo, trabalhava como besta de carga.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ai meu deus...senti falta das suas letras! que bom que vc voltou!

1:58 PM  

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