maio 09, 2006

Emo.. cionalmente alienados

No final dos 80 e comecinho dos anos 90, a onda do hardcore melódico, capitaneada pelo Bad Religion, mostrava a música punk mais uma vez se revigorando, se contemporizando. Ainda estava tudo no underground. Foi legal. Foi foda a primeira vez que ouvi Bad Religion, o Against The Grain era uma maravilha, a diatribe de Greg Grafin era (e ainda é) poderosa, ainda por vezes séria demais.
Mas a coisa vinha de antes, desde o Husker Du e Ian Mackaye, que chegaram com uma demão mais engajada, artística pra coisa toda, misturando a ira punk com cacos musicais pop, meio que cagando um bocado pros rótulos e norminhas sufocadoras do gênero. Enfim então apareceu gente explorando, experimentando ainda mais harmonias e melodias novas para o gênero.
Mas em meados dos 90 houve uma explosão de hc melódico. E aparentada dessa onda, vieram bandas fodas como Sunny Day Real State, Get Up Kids, Promisse Ring e bela Jets To Brazil. A gente já chamava essa parada toda de Emo.
Paralelamente, tínhamos Rancid, Bad Religion, Offspring e Green Day fazendo, de repente, sucesso.
Eis que isso tudo passou, mas os caras da minha idade continuaram na batalha do faça-você-mesmo. E eis que nossa geração criou um monstro. Um monstrinho fofo de supermercado cheirando a danoninho sem lactose...
Os anos 2000 chegaram e o Emo que era isso virou isso. Pra mim, esse papo de Emo se resume à seguinte história em bolinhas:
  • O punk foi engolido pela indústria ainda bebê, engatinhando (eu lembro bem da minha tia madame usando calças rasgadas no final dos anos 80)... Mas, sobrevive bem até hoje, no submundo, onde tem raízes tão fortes que chegaram mesmo a mudar o mundo. A parte do relacionamento humano da internet carrega uma incontestável herança disso, só pra dar um exemplo;
  • Uma das consequências dos processos do recrudescimento da liberalização da economia global nos anos 90, foi o começo do fim do jornalismo. E com ele, os últimos resquícios de crítica e jornalismo cultural não elitista ou não consumista;
  • O que alardearam ser a Era da Informação, tornou-se a Era do Conformismo Consumista;
  • Durante e depois do grunge, durante quase uma década, o Brasil foi saqueado por esquemas predatórios das gravadoras empurrando sertanojo e axé music de quinta. A música eletrônica saia do submundo e esmagava o que via pela frente no mainstream, o que eu achei muito bom, tanto que a música pop hoje é até melhor que o suposto rock (às vezes eu acho MIA anos luz melhor que Strokes).
  • Como eu disse antes, uma legião de caras da minha idade (hoje com cerca de 30 anos) continuou apostando na batalha do faça-você-mesmo. Por outro lado, também continuaram insistindo em tocar um hardcore cansativa e repetidamente melódico. Eram "punks" já muito ligados às palavras de ordem fáceis de decorar ou, então, vindos da classe média, nem um pouco preocupados em reclamar ou se opôr ao sistema. A galera também começava a amadurecer, ter de arrumar emprego, pagar aluguel, comprar carro, tv à cabo, essas coisas de gente grande...
  • Tinha um lado legal, mas também revelou um lado bem alienante o tal do "be positive"... Meio que o Punk deu um tiro no próprio pé. Um monte de moleque que não se identificava com o que ouvia nas rádios, ia ouvir os discos de harcore melódico do irmão ou amigo mais velho. Só que, a essa altura, já tínhamos nas mãos música tão alienada, que até os straight edge, tornaram-se um antro de pittboys fãs de metal;
  • A música já não tinha mais nada a ver. Nos anos 60 e 70, os hippies e os punks tentaram "ser" ou "não ser" e só se foderam, portanto, não carregavam valores que ajudariam os filhos mimados da classe média a comprar todas as bobagens que os seguros e socialmente higiênicos (leia-se, sem pobres) shopping centers oferecem. As ruas são muito violentas, não é mesmo, e para se locupletar, o barato é comprar, ter, parecer, causar efeito. Aliás a gíria "causar" me parece familiar nesse contexto...
  • Mas, na terra do quanto vale ou é por quilo, quem não tem visão crítica pode brincar de engajado fazendo uso do aerosol anti-crise aroma bebê, mais conhecido como "politicamente correto". Não precisa olhar para o problema, não precisa agir. Basta dizer que é tolerante.
  • Por outro lado, a moda corporativa espertamente foi buscar no visual todo cheio de significado dos jovens dos anos 70, 80 e 90, um jeito "cuul" e "féchiom" de uniformizar as crianças de agora, com suas munhequeiras e demais coisinhas.
  • Os pais alienados, ou mimaram seus filhos comprando tudo o que pediam ou, no melhor estilo Hommer Simpson, trocaram a estressante tarefa de dar atenção a seus filhos pelo o morno e embalante entorpecimento proporcionado pela televisão.
  • E foi assim que o punk rock foi parar no supermercado...
E, antes que eu me esqueça... No Brasil, filho de rico é "teen". Filho de pobre é "menor".

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Isso foi uma aula e tanto hein! Praticamente um catequista, hahaha!
:*

12:31 AM  

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