setembro 22, 2005

Angústia da Liberdade

(Vini/ReBeats - 20.02.97)

O futuro contestará seus sucessos presentes
E eu nasci pra quebrar todos os vasos da casa
Você quer parar o movimento
De medo cerra os dentes
Mas eu não sou um homem sério, camarada

Vou me negar, vou me enfrentar
Você vai quebrar a cara dentro do seu mundo congelado

A metamorfose contínua te dá nojo
E eu nasci pra quebrar a cara, de novo e de novo
Seguro em seu berço você consente a submissão
Mas eu sou livre, o mundo é a zona da diversão

Vou me negar, vou me enfrentar
Você vai quebrar a cara dentro do seu mundo congelado

Moral da ambigüidade
Angústia da liberdade

Quando eu vi o fim do mundo

(Vini/ReBeats)

Quando eu vi o fim do mundo
Quando eu vi a morte
Tudo me esperando lá no fim do túnel
Nada disso diferença fez
Diferença fez

Eu levo você ardendo em minha mente
Eu levo você queimando o meu peito
Eu vi o mal do mundo
Mas você deu um jeito
Desviou meu olhar, mas não me deixa esquecer

Mas eu vi o fim do mundo
Eu vi a morte
Tudo me esperando lá no fim do túnel

Nada disso diferença fez (4x)

Diferença fez (4x)

Acima dos Muros

(Pilão/ReBeats)

Antes que tudo termine
Me conte uma história
Do tempo em que o céu ainda era azul
Sem bombas de gás
Defeito moral
Eu e você
E as ruas em chamas

Mire seus olhos
Acima dos muros
Milhões de estrelas
Não podem errar
Não peça perdão
Nem ache normal
Segure minha mão
Enquanto tudo desaba

Escute a canção acima dos muros
Milhões de estrelas não vão se calar
Segure minha mão, me abrace outra vez
Enquanto o mundo desaba, distante de nós

Agora Vou Queimar

(Vini/ReBeats)

Milhões de reações
Químicas
Que dão num bicho que pensa
E acha que é o centro
Do universo

Nada disso é certo
Nada disso é certo

Não há ninguém por perto
Nada mais faz sentido
Agora vou
Agora vou
Queimar
Queimar

Na madrugada mais escura da minha mente
Vou pogar e rir à toa
Sobre minha carcaça inerte
Sem amor, sem comida, sem teto
Chovem ácido e canivetes sobre meu deserto

Não há ninguém por perto
Nada mais faz sentido
Agora vou
Agora vou
Queimar
Queimar

O Preço da Minha Cabeça

(Vini/ReBeats)

Sei que nasci com um preço pela minha cabeça
Que pesa muito agora, parece estar em chamas
Pois tudo o que me engana me acompanha aí afora
E eu só vejo paredes (só vejo paredes)

E vou sangrando em frente
Mentindo pros meus nervos
Sou essa roupa rota

A vida não é sua
O meu sorriso trinca
Nem todos são meus dias

Tenho irmãos na rua que vivem a mesma vida
Querem destruir todos os relógios do mundo
Olho nos olhos de gananciosos de noites bem dormidas
Como eles são capazes de pregar os olhos

Mas o meu suor grita
E minhas botas sujas
Minhas quinquilharias

E o meu suor suja
Meus panos de brechó
Mas minha vida é limpa

setembro 09, 2005

A mensagem atrás do anúncio

DEMÉTRIO MAGNOLI

O soldado do século 16 não usava uniforme. Como relata o historiador militar John Keegan, ele "orgulhava-se da diversidade de sua indumentária, muitas vezes produto de pilhagem". Esse guerreiro mercenário adotava "a moda renascentista de rasgar as roupas externas para exibir as sedas e veludos usados por baixo" para mostrar que "um soldado podia tomar a seu bel-prazer coisas finas e usá-las com impunidade". O uniforme militar generalizou-se no século 18, como elemento simbólico da afirmação da soberania do Estado, e seu uso foi consagrado pelo "exército de cidadãos" da França revolucionária, que proclamou o igualitarismo e suprimiu as distinções entre os nobres e a plebe.
Como o uniforme militar, o uniforme escolar, mais do que uma vestimenta, é um símbolo. Ele desempenha a função de cancelar as diferenças de berço, renda, cultura e religião entre os jovens estudantes. Ele circunda o espaço e o tempo da escola por meio de uma fronteira imaginária que separa a vivência pública da privada. Ele veicula uma mensagem de compromisso do Estado com a educação pública e de reconhecimento da cidadania plena de todos os que atravessam o portão da escola.
Esses significados simbólicos do uniforme escolar parecem, surpreendentemente, escapar à compreensão do prefeito José Serra. A sua decisão de vender espaços publicitários nos uniformes escolares de São Paulo revela desprezo pelas obrigações do Estado e pelos direitos dos estudantes. Os argumentos esgrimidos pela prefeitura e a linguagem utilizada pelos defensores da "solução criativa" de distribuir uniformes "patrocinados" evidenciam um grau preocupante de dissolução dos valores republicanos entre nós.
A novidade é descrita, hipocritamente, como "doação de uniformes", como se o mercado publicitário não atribuísse valor à inscrição de anúncios e logomarcas empresariais nas roupas de 900 mil jovens. Em defesa da operação, a prefeitura (e até um editorial desta Folha!) oferece cálculos de economia de recursos públicos que mal escondem a concepção que os inspira. É como se o uniforme escolar fosse uma dádiva generosa, um favor, uma esmola, mais uma cesta básica entre tantas que grassam no país-laboratório das "políticas sociais compensatórias". No fundo, é como se a educação pública fosse um estorvo para a sociedade, um ralo por onde descem recursos aos quais se poderia conferir destino "produtivo".
Vivemos num tempo de esfuziante entusiasmo dos políticos pela idéia de "parcerias público-privadas". Um banco privado empresta milhões sem garantias ao partido do governo e ganha preferência no "negócio da China" de empréstimos consignados aos aposentados do INSS. Uma aeronave da Força Aérea transporta gratuitamente os filhos do presidente nas suas férias privadas. Um estilista camarada financia com doações a renovação do guarda-roupa da primeira-dama. Na versão de Serra da idéia da moda, a prefeitura oferece aos empresários parceiros quase um milhão de outdoors ambulantes, que, casualmente, são menores de idade e, na escola, devem aprender a distinguir o interesse público dos interesses privados.
Atrás de cada logomarca empresarial no uniforme "patrocinado" oculta-se a mensagem de que tudo está à venda, inclusive os valores. É isso mesmo que Serra quer dizer?


Demétrio Magnoli escreve às quintas-feiras nesta coluna.
@ - magnoli@ajato.com.br